quinta-feira, 28 de março de 2024

 




Cantiga de Amigo

Representação do Trovadorismo em Óbidos - Portugal

Cantiga Ai dona fea

Encenação por alunos Ai dona fea

A trágica história de amor de Pedro e Inês de Castro, rei e rainha de Portugal – século XII 

 [ Na grafia da época, ainda que não fosse normalizada, o seu nome surge como "Enes de Crasto", por exemplo, no  Juramento de D. Pedro I do matrimónio celebrado com D. Inês de Castro (1360)

A fabulosa história de D. Inês de Castro e de D. Pedro tem simultaneamente uma base histórica e lendária, persistência mítica que se tem mantido ao longo de todos estes séculos, mantendo a sua ligação à Quinta das Lágrimas. D. Inês de Castro (Reino da Galiza, 1320/1325 — Coimbra, 7 de janeiro de 1355), nobre galega e descendente de família real por via bastarda, D. Inês de Castro era filha de D. Pedro Fernandes de Castro, mordomo-mor do rei D. Afonso XI de Castela, e de uma dama portuguesa, Aldonça Lourenço de Valadares. O seu pai, neto por via ilegítima de D. Sancho IV de Leão e Castela, era um dos fidalgos mais poderosos do Reino de Castela., veio para Portugal como aia de companhia de D.  Constança, noiva do Infante D.  Pedro, filho do Rei D. Afonso IV.

Em 24 de Agosto de 1338 teve lugar, na Sé de Lisboa, o casamento do Infante Pedro I de Portugal, herdeiro do trono português, com D. Constança Manuel. No entanto, foi por D. Inês que D. Pedro se apaixonou e rapidamente iniciaram uma relação sentimental. Este romance notório começou a ser comentado e a ser mal aceito, mais pela corte, que temia a influência castelhana sobre o Infante Pedro, que pelo povo

Quando D. Constança descobre o sucedido, tenta inviabilizar essa ligação, convidando D. Inês de Castro para madrinha de um filho, o que naquela época a impedia de ter uma relação com o pai do seu sobrinho, porém a criança não vingou.

Sob o pretexto da moralidade, D. Afonso IV não aprovava esta relação, não só por motivos de diplomacia com João Manuel de Castela, mas também devido à amizade estreita de D. Pedro com os irmãos de D. Inês - D. Fernando de Castro e D. Álvaro Perez de Castro. Assim, em 1344, o rei mandou exilar D. Inês no castelo de Albuquerque, na fronteira castelhana, onde tinha sido criada por sua tia, D. Teresa, mulher de um meio irmão de D. Afonso IV. No entanto, a distância não teria apagado o amor entre Pedro e Inês, os quais, correspondiam-se com frequência.

Em outubro de 1345 D. Constança morreu ao dar à luz o futuro rei, D. Fernando I de Portugal. Viúvo, D. Pedro, contra a vontade do pai, mandou D. Inês regressar do exílio uniu-se a ela, provocando algum escândalo na corte e desgosto para El-Rei, seu pai. Começou então uma desavença entre o rei e o infante.

O herdeiro do trono e a dama galega iniciaram uma vida em comum “fazendo maridança”, segundo a expressão de Fernão Lopes, na Crónica de D. Pedro. O casal assume assim a sua relação e vai viver no Palácio anexo ao Convento de Santa Clara, situado junto ao Rio Mondego e à Quinta das Lágrimas, que fora construído pela Rainha D. Isabel, Avó de D. Pedro, que viria a ser canonizada com o nome de Rainha Santa. Durante os anos que viveram em Coimbra, frequentaram os jardins e a mata contígua à Fonte dos Amores. Realmente, em 1326, a Rainha Santa tinha comprado aos Frades de Santa Cruz o direito à água que jorrava de duas nascentes ali situadas, para abastecer o Convento de Santa Clara que reconstruíra.

D. Afonso IV tentou remediar a situação casando o seu filho com uma dama de sangue real, mas D. Pedro rejeitou este projeto, alegando que sentia ainda muito a perda de sua mulher, D. Constança, e que não conseguia ainda pensar num novo casamento. No entanto, D. Inês foi tendo filhos de D. Pedro: Afonso em 1346 (que morreu pouco depois de nascer), João em 1349, Dinis em 1354 e Beatriz em 1347. O nascimento destes veio agudizar a situação porque, durante o reinado de D. Dinis, o seu filho e herdeiro D. Afonso IV sentira-se em risco de ser preterido na sucessão ao trono por um dos filhos bastardos do seu pai. Agora circulavam boatos de que os Castros conspiravam para assassinar o infante D. Fernando, legítimo herdeiro de D. Pedro, para o trono português passar para o filho mais velho de D. Inês de Castro. Não passavam de boatos plantados pelos fidalgos da corte portuguesa vez que D. Fernando I assumiu o trono como previamente esperado.

Havia boatos de que o Príncipe se tinha casado secretamente com D. Inês, facto confirmado por D. Pedro I na famosa Declaração de Cantanhede. Na Família Real um incidente deste tipo assumia graves implicações políticas. Sentindo-se ameaçados pelos irmãos Castro, os fidalgos da corte portuguesa pressionavam o rei D. Afonso IV para afastar esta influência do seu herdeiro. O rei D. Afonso IV decidiu que a melhor solução seria matar a dama galega.

O rei cedeu às pressões dos seus conselheiros e aproveitando a ausência de D. Pedro, numa excursão de caça, foi com Pero Coelho, Álvaro Gonçalves, Diogo Lopes Pacheco e outros para executarem Inês de Castro em Santa Clara, conforme fora decidido em conselho. Assim sendo, a futura rainha de Portugal morreu em 7 de janeiro de 1355, degolada, conforme convinha a uma pessoa da sua condição. Segundo a lenda, as lágrimas derramadas no rio Mondego pela morte de Inês teriam criado a Fonte das Lágrimas da Quinta das Lágrimas, e algumas algas avermelhadas que ali crescem seriam o seu sangue derramado.

D. Pedro reagiu com violência à execução da sua amada e mãe de três dos seus filhos e iniciou um período de guerra civil contra o Rei, seu pai, que só terminou devido à intervenção mediadora da Rainha de Portugal, sua mãe, D. Beatriz.

D. Pedro tornou-se no oitavo rei de Portugal como D. Pedro I em 1357. Em junho de 1360 fez a declaração de Cantanhede, legitimando os filhos ao afirmar que se tinha casado secretamente com D. Inês, em 1354, em Bragança. A palavra do rei, do seu capelão e de um seu criado foram as provas necessárias para legalizar esse casamento. Assim Inês passava a ser Rainha de Portugal, tendo que ser tratada como tal.

De seguida perseguiu os assassinos de D. Inês, que tinham fugido para o Reino de Castela. Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram apanhados e executados em Santarém. Arrancou pessoalmente o coração de ambos, abrindo o peito a um e as costas ao outro ainda em vida, dizendo que homens que haviam matado uma mulher inocente não podiam ter coração. (este fato é confirmado por Fernão Lopes). Diogo Lopes Pacheco conseguiu escapar para a França e, posteriormente, seria perdoado pelo Rei no seu leito de morte. Mas essa nem foi a principal parte de sua vingança.

O Rei mandou construir túmulos magníficos no Convento de Alcobaça, com as sepulturas uma de frente para outra, de forma que, quando despertassem para o dia do juízo final, pudessem se olhar frente a frente. Mas não foi só isso. Antes de colocar o corpo de D. Inês no novo túmulo, D. Pedro I pretensamente impôs à sua corte a cerimónia da coroação e do beija mão (sob pena de morte) à Rainha D. Inês, já morta.

NA LITERATURA

•            A primeira aparição dos amores de D. Inês na literatura dá-se com as Trovas à Morte de Inês de Castro, de Garcia de Resende, no Cancioneiro Geral de 1516;

•            A tragédia foi também representada entre o povo, com o teatro de cordel;

•            Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, constituíram a maior influência na lenda, com o episódio da "linda Inês" nas estrofes 120 a 135 do Canto III;

•            A tragédia A Castro (1587), a primeira tragédia clássica portuguesa, de António Ferreira, foi baseada na sua vida;

•            Bocage dedicou-lhe uma cantata;

•            O neoclássico João Batista Gomes Júnior (1775?-1803) é o autor da tragédia em cinco atos A Nova Castro.

•            Foi com o Romantismo em Portugal que aumentou o interesse pelos factos históricos associados ao episódio; Alexandre Herculano e Oliveira Martins, entre outros, procuraram investigar, com algum rigor, as pessoas e factos históricos;

•            Os amores de D. Inês popularizaram-se na literatura erudita, entre outros com os árcades Manuel de Figueiredo e Reis Quita;

•            Em 1986 Agustina Bessa-Luís (1922-) publicou as Adivinhas de Pedro e Inês;

•            Outros autores, tais como Luís Rosa e João Aguiar, publicaram livros sobre a trágica vida de Inês de Castro (O Amor infinito de Pedro e Inês e Inês de Portugal, respectivamente).

•            Em 2009 é publicado o livro A história de Inês de Castro pela Letras e Coisas, no Porto - da autoria de Ângelo da Silva, parte de um projeto multidisciplinar que envolve texto, música e pintura.

•            Em 2009 João Rasteiro publica o poemário "Pedro e Inês ou As Madrugadas Esculpidas" onde canta esse infinito e imortal amor que floresceu eternamente junto às claras águas do Mondego.