Representação do Trovadorismo em Óbidos - Portugal
Encenação por alunos Ai dona fea
A trágica
história de amor de Pedro e Inês de Castro, rei e rainha de Portugal – século
XII
A fabulosa
história de D. Inês de Castro e de D. Pedro tem simultaneamente uma base
histórica e lendária, persistência mítica que se tem mantido ao longo de todos
estes séculos, mantendo a sua ligação à Quinta das Lágrimas. D. Inês de Castro
(Reino da Galiza, 1320/1325 — Coimbra, 7 de janeiro de 1355), nobre galega e
descendente de família real por via bastarda, D. Inês de Castro era filha de D.
Pedro Fernandes de Castro, mordomo-mor do rei D. Afonso XI de Castela, e de uma
dama portuguesa, Aldonça Lourenço de Valadares. O seu pai, neto por via
ilegítima de D. Sancho IV de Leão e Castela, era um dos fidalgos mais poderosos
do Reino de Castela., veio para Portugal como aia de companhia de D. Constança, noiva do Infante D. Pedro, filho do Rei D. Afonso IV.
Em 24 de
Agosto de 1338 teve lugar, na Sé de Lisboa, o casamento do Infante Pedro I de
Portugal, herdeiro do trono português, com D. Constança Manuel. No entanto, foi
por D. Inês que D. Pedro se apaixonou e rapidamente iniciaram uma relação
sentimental. Este romance notório começou a ser comentado e a ser mal aceito,
mais pela corte, que temia a influência castelhana sobre o Infante Pedro, que
pelo povo
Quando D.
Constança descobre o sucedido, tenta inviabilizar essa ligação, convidando D.
Inês de Castro para madrinha de um filho, o que naquela época a impedia de ter
uma relação com o pai do seu sobrinho, porém a criança não vingou.
Sob o
pretexto da moralidade, D. Afonso IV não aprovava esta relação, não só por
motivos de diplomacia com João Manuel de Castela, mas também devido à amizade
estreita de D. Pedro com os irmãos de D. Inês - D. Fernando de Castro e D.
Álvaro Perez de Castro. Assim, em 1344, o rei mandou exilar D. Inês no castelo
de Albuquerque, na fronteira castelhana, onde tinha sido criada por sua tia, D.
Teresa, mulher de um meio irmão de D. Afonso IV. No entanto, a distância não
teria apagado o amor entre Pedro e Inês, os quais, correspondiam-se com
frequência.
Em outubro
de 1345 D. Constança morreu ao dar à luz o futuro rei, D. Fernando I de
Portugal. Viúvo, D. Pedro, contra a vontade do pai, mandou D. Inês regressar do
exílio uniu-se a ela, provocando algum escândalo na corte e desgosto para
El-Rei, seu pai. Começou então uma desavença entre o rei e o infante.
O herdeiro
do trono e a dama galega iniciaram uma vida em comum “fazendo maridança”,
segundo a expressão de Fernão Lopes, na Crónica de D. Pedro. O casal assume
assim a sua relação e vai viver no Palácio anexo ao Convento de Santa Clara,
situado junto ao Rio Mondego e à Quinta das Lágrimas, que fora construído pela
Rainha D. Isabel, Avó de D. Pedro, que viria a ser canonizada com o nome de
Rainha Santa. Durante os anos que viveram em Coimbra, frequentaram os jardins e
a mata contígua à Fonte dos Amores. Realmente, em 1326, a Rainha Santa tinha
comprado aos Frades de Santa Cruz o direito à água que jorrava de duas
nascentes ali situadas, para abastecer o Convento de Santa Clara que
reconstruíra.
D. Afonso IV
tentou remediar a situação casando o seu filho com uma dama de sangue real, mas
D. Pedro rejeitou este projeto, alegando que sentia ainda muito a perda de sua
mulher, D. Constança, e que não conseguia ainda pensar num novo casamento. No
entanto, D. Inês foi tendo filhos de D. Pedro: Afonso em 1346 (que morreu pouco
depois de nascer), João em 1349, Dinis em 1354 e Beatriz em 1347. O nascimento
destes veio agudizar a situação porque, durante o reinado de D. Dinis, o seu
filho e herdeiro D. Afonso IV sentira-se em risco de ser preterido na sucessão
ao trono por um dos filhos bastardos do seu pai. Agora circulavam boatos de que
os Castros conspiravam para assassinar o infante D. Fernando, legítimo herdeiro
de D. Pedro, para o trono português passar para o filho mais velho de D. Inês
de Castro. Não passavam de boatos plantados pelos fidalgos da corte portuguesa
vez que D. Fernando I assumiu o trono como previamente esperado.
Havia boatos
de que o Príncipe se tinha casado secretamente com D. Inês, facto confirmado
por D. Pedro I na famosa Declaração de Cantanhede. Na Família Real um incidente
deste tipo assumia graves implicações políticas. Sentindo-se ameaçados pelos
irmãos Castro, os fidalgos da corte portuguesa pressionavam o rei D. Afonso IV
para afastar esta influência do seu herdeiro. O rei D. Afonso IV decidiu que a
melhor solução seria matar a dama galega.
O rei cedeu
às pressões dos seus conselheiros e aproveitando a ausência de D. Pedro, numa
excursão de caça, foi com Pero Coelho, Álvaro Gonçalves, Diogo Lopes Pacheco e
outros para executarem Inês de Castro em Santa Clara, conforme fora decidido em
conselho. Assim sendo, a futura rainha de Portugal morreu em 7 de janeiro de
1355, degolada, conforme convinha a uma pessoa da sua condição. Segundo a
lenda, as lágrimas derramadas no rio Mondego pela morte de Inês teriam criado a
Fonte das Lágrimas da Quinta das Lágrimas, e algumas algas avermelhadas que ali
crescem seriam o seu sangue derramado.
D. Pedro
reagiu com violência à execução da sua amada e mãe de três dos seus filhos e
iniciou um período de guerra civil contra o Rei, seu pai, que só terminou
devido à intervenção mediadora da Rainha de Portugal, sua mãe, D. Beatriz.
D. Pedro
tornou-se no oitavo rei de Portugal como D. Pedro I em 1357. Em junho de 1360
fez a declaração de Cantanhede, legitimando os filhos ao afirmar que se tinha
casado secretamente com D. Inês, em 1354, em Bragança. A palavra do rei, do seu
capelão e de um seu criado foram as provas necessárias para legalizar esse
casamento. Assim Inês passava a ser Rainha de Portugal, tendo que ser tratada
como tal.
De seguida
perseguiu os assassinos de D. Inês, que tinham fugido para o Reino de Castela.
Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram apanhados e executados em Santarém.
Arrancou pessoalmente o coração de ambos, abrindo o peito a um e as costas ao
outro ainda em vida, dizendo que homens que haviam matado uma mulher inocente
não podiam ter coração. (este fato é confirmado por Fernão Lopes). Diogo Lopes
Pacheco conseguiu escapar para a França e, posteriormente, seria perdoado pelo
Rei no seu leito de morte. Mas essa nem foi a principal parte de sua vingança.
O Rei mandou
construir túmulos magníficos no Convento de Alcobaça, com as sepulturas uma de
frente para outra, de forma que, quando despertassem para o dia do juízo final,
pudessem se olhar frente a frente. Mas não foi só isso. Antes de colocar o
corpo de D. Inês no novo túmulo, D. Pedro I pretensamente impôs à sua corte a
cerimónia da coroação e do beija mão (sob pena de morte) à Rainha D. Inês, já
morta.
NA
LITERATURA
• A primeira aparição dos amores de D.
Inês na literatura dá-se com as Trovas à Morte de Inês de Castro, de Garcia de
Resende, no Cancioneiro Geral de 1516;
• A tragédia foi também representada
entre o povo, com o teatro de cordel;
• Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões,
constituíram a maior influência na lenda, com o episódio da "linda
Inês" nas estrofes 120 a 135 do Canto III;
• A tragédia A Castro (1587), a
primeira tragédia clássica portuguesa, de António Ferreira, foi baseada na sua
vida;
• Bocage dedicou-lhe uma cantata;
• O neoclássico João Batista Gomes
Júnior (1775?-1803) é o autor da tragédia em cinco atos A Nova Castro.
• Foi com o Romantismo em Portugal que
aumentou o interesse pelos factos históricos associados ao episódio; Alexandre
Herculano e Oliveira Martins, entre outros, procuraram investigar, com algum
rigor, as pessoas e factos históricos;
• Os amores de D. Inês
popularizaram-se na literatura erudita, entre outros com os árcades Manuel de
Figueiredo e Reis Quita;
• Em 1986 Agustina Bessa-Luís (1922-)
publicou as Adivinhas de Pedro e Inês;
• Outros autores, tais como Luís Rosa
e João Aguiar, publicaram livros sobre a trágica vida de Inês de Castro (O Amor
infinito de Pedro e Inês e Inês de Portugal, respectivamente).
• Em 2009 é publicado o livro A história
de Inês de Castro pela Letras e Coisas, no Porto - da autoria de Ângelo da
Silva, parte de um projeto multidisciplinar que envolve texto, música e
pintura.
• Em 2009 João Rasteiro publica o
poemário "Pedro e Inês ou As Madrugadas Esculpidas" onde canta esse
infinito e imortal amor que floresceu eternamente junto às claras águas do
Mondego.